quarta-feira, 1 de abril de 2015

Como o Domingo tornou-se o popular Dia de Culto – Parte 1

Kenneth A Strand, Ph.D.
Professor de Teologia Histórica e Novo Testamento, na Andrews University, até o tempo de seu falecimento em 1997
Resumo: Esta primeira parte do artigo trata das evidências bíblicas e históricas que corroboram a afirmação de que o sábado foi o dia de culto e descanso para os cristãos dos primeiros séculos. Estas mesmas evidências também enfraquecem qualquer tentativa de se colocar o domingo como dia de culto observado pelos apóstolos de Cristo após Sua ressurreição.
Abstract: The first part of a three-article series, deals with the biblical and historical evidences that confirms the notion that the seventh-day Sabbath was the day of worship and rest for the Christians in the first centuries of the Christian era.  At the same time, these very evidences weaken the attempt to place Sunday as the day of worship observed by the apostles of Christ after His resurrection.

Introdução

A questão de como o domingo, o primeiro dia, substituiu o sábado, o sétimo dia da semana, como o principal dia do culto cristão, tem recebido crescente atenção em anos recentes.
Um estudo amplamente aclamado, por exemplo, sugere que domingo cristão semanal, emergiu das celebrações da ceia, nas noites de sábado, imediatamente após a ressurreição, com o domingo sendo um dia de trabalho até depois do tempo de Constantino, o Grande, no início do quarto século2. Eventualmente, contudo, o domingo deixou de ser um dia de trabalho e tornou-se um “sábado” [dia de repouso] cristão3.
Algumas teorias mais simples e mais populares defendem que: (1) o domingo substituiu o sétimo dia da semana, o sábado, imediatamente após a ressurreição de Cristo; ou (2) a guarda do domingo foi importada diretamente do paganismo, durante o segundo século ou posteriormente.
Mas estariam estas compreensões corretas? O que as fontes de materiais relacionados com a questão nos dizem?

Ambos os dias observados

Uma coisa é clara: o domingo cristão semanal – não importa quando ele tenha surgido – não tornou-se inicialmente, em geral, um substituto para o sábado bíblico, o sétimo dia da semana; pois ambos, tanto o sábado quanto o domingo foram amplamente mantidos, lado a lado, por vários séculos da história cristã primitiva. Sócrates Scholasticus, um historiador eclesiástico do quinto século d.C., escreveu: “Embora quase todas as igrejas através do mundo celebrem os mistérios sagrados [a ceia do Senhor], no sábado de cada semana, os cristãos de Alexandria e Roma, contudo, em função de uma antiga tradição, cessaram de fazer isto.”4 Por sua vez, Sozomen, um contemporâneo de Sócrates, escreveu: “O povo de Constantinopla, em quase todos os lugares, reúnem-se juntos no sábado, bem como no primeiro dia da semana, costume nunca observado em Roma ou em Alexandria.”5
Assim, “em quase todos os lugares”, através da cristandade, exceto em Roma e Alexandria, havia serviços de culto cristão, tanto no sábado quanto no domingo, no final do quinto século. Um número de outras fontes do terceiro ao quinto séculos também descreve a observância cristã de ambos, sábado e domingo.
Por exemplo, a Constituição Apostólica, compilada no quarto século, fornece instrução para “guardar o festival do sábado [sétimo dia] e do dia do Senhor [domingo]; porque o primeiro é o memorial da criação e o último da ressurreição. Deixe-se que os escravos trabalhem cinco dias; mas no dia do sábado [sétimo dia] e no dia do Senhor [domingo], que eles tenham folga para irem à igreja para instrução em piedade”6.
Ao redor do mesmo tempo um escritor anônimo, conhecido como um interpolador de Ignácio, advertiu: “Que cada um de vós guarde o sábado de acordo com a maneira espiritual, regozijando-se na meditação da lei. [...] E após a observância do sábado, que cada amigo de Cristo guarde o dia do Senhor como um festival, o dia da ressurreição, a rainha e o mais importante de todos os dias.”7 E no quinto século, João Cassiano, refere-se à freqüência à igreja em ambos, sábado e domingo, declarando que ele mesmo tinha visto um certo monge, que, algumas vezes, jejuava cinco dias por semana, mas que ia à igreja no sábado ou no domingo e trazia hóspedes para casa para uma refeição naqueles dois dias.8
Gregório de Nissa, no final do quarto século refere-se ao sábado e ao domingo como “irmãos”9. E por volta do ano 400 d.C., Astério de Amasea declarou que era maravilhoso para os cristãos que “estes dois dias viessem juntos, em dupla” – “o sábado e o dia do Senhor”10, os quais, a cada semana, reúnem juntos, o povo com os sacerdotes como seus instrutores.
É claro que nenhum destes escritores primitivos confundiu o domingo com o sábado bíblico. O domingo, o primeiro dia da semana, sempre seguiu o sábado, o sétimo dia. Além disto, os registros históricos são claros em demonstrar que o ciclo semanal permaneceu inalterado desde o tempo de Cristo até agora, assim que o sábado e o domingo destes primeiros séculos são ainda o sábado e o domingo de hoje.
Posteriormente trataremos com informações vindas da igreja primitiva do segundo século e dos séculos subseqüentes, para traçar a forma pela qual o domingo, eventualmente, chegou a obscurecer o sábado. Mas primeiro é importante, aqui, analisar as evidências do Novo Testamento, considerando que o Novo Testamento é normativo para a prática cristã.
Como Cristo e os apóstolo consideraram o sábado e o domingo?

O sábado no Novo Testamento

De acordo com Lc 4:16, era “costume” de Cristo freqüentar a sinagoga no dia do sábado. Além disto, por ocasião da morte de Cristo e do Seu sepultamento, as mulheres que O haviam seguido da Galiléia “repousaram no sábado, conforme o mandamento” (Lc 23:56), indicando que não houvera dEle qualquer instrução em contrário. Seus discípulos ainda observavam o sétimo dia da semana!
Podemos, adicionalmente, observar que a implicação deste texto é que, quando Lucas escreveu este registro, várias décadas depois da crucifixão de Cristo, ele assumiu que nenhuma mudança na observância do sábado havia ocorrido. Ele informa esta observância como “conforme o mandamento”, de uma maneira totalmente factual, sem qualquer indicação de que um novo dia de culto houvesse sido acrescentado neste ínterim.
Por outro lado devemos também reconhecer, naturalmente, que Cristo foi acusado pelos escribas e fariseus, de transgredir o sábado. Podemos tomar, por exemplo, o incidente quando os discípulos de Cristo colheram espigas, enquanto caminhavam por um campo de cereais, as debulharam com as mãos e as comeram (Mt 12:1-8). Podemos observar ainda que em várias instâncias das obras de cura de Cristo, estas estiveram em conflito com a noção dos líderes judaicos quanto à observância do sábado. Talvez, o incidente mais notório seja a cura do homem com a mão ressequida (Mt 12:10-13). Qual o significado destas experiências?
Para entender a situação devemos reconhecer que a observância do sábado no judaísmo nos dias de Cristo, não significava simplesmente seguir os ensinos das Escrituras, mas também a aderência à estrita regulamentação da tradição judaica oral. O Mishnah, que contém uma multidão de regulamentos da assim chamada lei oral, foi escrito por volta do ano 200 d.C. e oferece uma ideia de como o sábado era observado entre os escribas e fariseus. No Mishnah, sobre o sábado, encontramos tanto leis maiores quanto leis menores.

Regulamentação adicional quanto a guarda do sábado

As trinta e nove leis maiores relacionadas no tratado (ou seção) do Mishnah, intitulado “Sábado” são apresentadas da seguinte forma: “Os tipos principais de trabalho são quarenta menos um: semear, arar, colher, amarrar em molhos, raspar, debulhar, joeirar, limpar colheitas, moer, peneirar, amassar, cozer, tosquiar o algodão, lavar, bater ou tingir, enrolar, tecer, fazer dois laços, tecer duas cordas, separar duas linhas, atar (em um nó), soltar (um nó), costurar dois pontos, caçar uma corça, abater, pendurar ou salgá-la, curtir sua pele, raspar ou cortar, escrever duas letras, apagar para escrever duas letras, construir, arrastar, apagar fogo, acender fogo, martelar, ou levar qualquer coisa de um lugar para outro. Estes são os principais tipos de trabalhos: quarenta menos um”11.
Estas trinta e nove leis tinham muitas variações e ramificações. Faria diferença, por exemplo, se duas letras do alfabeto fossem escritas de tal forma que elas pudessem, ambas, serem lidas ao mesmo tempo. Se uma pessoa escrevesse uma letra em um dos lados de uma parede e a outra numa quina transversal da parede, de maneira que ambas as letras fossem escritas na parede e pudessem ser vistas ao mesmo tempo, a pessoa teria transgredido o sábado.12
Um objeto poderia ser carregado no sábado, mas se de maneira diferente da usual; alimento poderia ser levado para fora da casa em dois atos (até a soleira, e então o resto da jornada), ou por duas pessoas, porque então não seria trabalho de um ponto de vista técnico, em sentido proposital; mas carregar qualquer coisa de uma casa de maneira normal, no sábado, seria violar a lei maior do sábado que proibia “levar qualquer coisa de um lugar para outro”13.
Se água devesse ser retirada de um poço, com um vaso, uma pedra [amarrada] como peso no vaso seria considerada parte dele, se ela não caísse ou se desprendesse. Contudo, se isto acontecesse, seria considerado como um objeto sendo levantando e, portanto, a pessoa em tal experiência seria culpada de transgredir o sábado.14 Objetos poderiam ser levados no sábado, mas havia regras relacionadas com a distância permissível e quanto a se o objeto saía de uma área privada para uma área pública, por exemplo.15
O que foi mencionado são apenas algumas das regras específicas relacionadas no tratado “Sábado”. E em adição às leis mencionadas nesse tratado, o Mishnah contém outras regulamentações sobre o sábado, o número maior delas trata com a jornada permitida num dia de sábado. Estas são discutidas no trabalho “Erubin”.
No contexto deste tipo de casuística relacionada com a observância do sábado, é obvio por que os discípulos de Cristo foram acusados de transgressão do sábado, pelo ato de colher e debulhar as espigas de grãos. Uma das trinta e nove principais leis do sábado era “colher”; a outra “debulhar”. Assim os discípulos de Cristo, tanto colheram quanto debulharam – violando duas das leis maiores quanto à observância do sábado.
Se eles assopraram a palha, então, possivelmente, poderiam ter sido considerados envolvidos no ato de “joeirar” – e neste caso teriam violado três diferentes leis maiores do Sábado. Tais “violações do sábado”, deve-se enfatizar, não eram contrárias aos mandamentos de Deus, dados nas Escrituras, mas pura e exclusivamente contrárias às restrições judaicas.
Com relação à cura de enfermidades e ao cuidado do sofrimento no sábado, as leis rabínicas faziam certas exceções, tal como a que permitia que um animal fosse levantado de um poço.16 Contudo, havia alguns judeus no tempo de Cristo que eram mais estritos do que os requerimentos rabínicos e nem mesmo permitiriam que um animal recém-nascido fosse resgatado no dia do sábado, se acontecesse de cair e um buraco. Eles também não permitiam que amas carregassem bebês no sábado.17
Considerando os vários milagres de Cristo realizados no sábado, com o propósito de aliviar o sofrimento, é interessante observar que Cristo nunca aceitou a crítica dos fariseus de que Ele estivesse transgredindo o sábado. De fato, em conexão com o caso do homem da mão ressequida, Ele levanta a questão: “Qual de vós será o homem que, tendo uma ovelha, e, no sábado, ela cair numa cova, não vai apanhá-la e tirá-la de lá? Quanto mais vale um homem do que uma ovelha? Logo é lícito fazer bem os sábados” (Mt 12:11, 12).
Depois disto, Ele realizou a cura do homem. Assim, Cristo enfatizou a legalidade deste tipo de ação no sábado.
Se alguém lê os detalhes de todas as atividades de Cristo, no sábado, fica claro que (1) Ele frequentava os serviços de culto; (2) Ele realizou obras de misericórdia, as quais Ele, como Senhor do sábado (Mt 12:8; Mr 2:28), declarou estarem em harmonia com a intenção do sábado; (3) Ele nunca declarou ter abolido o sábado como um dia de repouso e culto para os Seus seguidores. Realmente, com respeito a tal ponto, Seus seguidores, como já observado, repousaram no dia do sábado, de acordo com o mandamento, quando Cristo esteve na sepultura.

E os apóstolos?

O que podemos dizer acerca da prática apostólica depois da ressurreição de Cristo? O livro de Atos revela que o único dia no qual os apóstolos estiveram envolvidos em serviços de culto, em base semanal foi o sábado, o sétimo dia. O apóstolo Paulo, e seu grupo, quando visitando Antioquia da Pisídia, “entrando na sinagoga, num dia de sábado, assentaram-se” (At 13:14). Depois da leitura das Escrituras, eles foram convidados a falar. Permanecendo em Antioquia por mais uma semana, “no sábado seguinte reuniu-se quase toda a cidade para ouvir a palavra de Deus” (verso 44).
Em Filipos Paulo e sua equipe saíram da cidade para a margem de um rio, no dia de sábado, onde buscavam um lugar para oração (Atos 16:13). Em Tessalônica, “como tinha por costume”, Paulo foi à sinagoga e “por três sábados discutiu com eles [os judeus] sobre as Escrituras” (At 17:2). E, em Corinto, onde Paulo permaneceu por um ano e meio, “todos os sábados ele discutia na sinagoga, e convencia a judeus e a gregos” (At 18:4; compare com o verso 11).
Assim, as evidências do livro de Atos são múltiplas, concernente à freqüência apostólica aos serviços de culto nos sábados.

O domingo, como dia de culto?

Por outro lado, o único caso em todo o livro de Atos onde ocorre o registro de uma reunião num domingo é At 20:7-11. Este foi um serviço noturno, provavelmente na noite do sábado (sendo mesmo traduzido, em algumas versões, como a New English Bible, como “sábado à noite”). Esta foi, obviamente, uma reunião especial que continuou por toda a noite, uma vez que Paulo planejava viajar (como de fato viajou) no dia seguinte).
Mas, encontramos algum outro texto no Novo Testamento, indicando que houvesse, neste período, serviço regular de culto no domingo? Nem uma única referência!
É verdade, naturalmente, que em uma ou duas ocasiões, Cristo Se encontrou com os discípulos numa noite de domingo. Ele veio a eles na mesma noite da Sua ressurreição; mas eles não estavam reunidos para celebrar a ressurreição, pois nem mesmo reconheciam que esta havia ocorrido (Jo 20:19-25; Mr 16:14). E oito dias depois, Ele, outra vez, Se encontrou como eles (Jo 20:26-29).
Antes de Sua ascensão Jesus também apareceu aos discípulos em um número de ocasiões, e o registro de um ou dois encontros em domingos específicos, não dá nenhuma indicação que um novo dia de culto tivesse sido instituído. De fato, em nenhuma vez no registro dos evangelhos, ou em qualquer outro lugar no Novo Testamento, encontramos qualquer declaração de que os encontros de Cristo com os Seus discípulos tivessem estabelecido um precedente para o serviço de culto aos domingos, entre os cristãos. O sábado continuou sendo, como temos visto, o dia regular quando os apóstolos freqüentavam aos serviços de culto.
Dois outros textos que alguns mencionam como evidências para o serviço de culto aos domingos nos tempos do Novo Testamento são 1Co 16:2 e Ap 1:10. Mas nota-se imediatamente que nenhum destes textos nem mesmo mencionam um serviço de culto.
Em 1Co 16:2, lê-se: “No primeiro dia da semana, cada um de vós, ponha de parte, o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade, para que se não façam coletas quando eu chegar.” A expressão “ponha de parte” não significa mais do que um plano individualizado de economia. Outras versões traduzem o grego mais claramente neste ponto, indicando que o dinheiro deveria ser colocado à parte, em casa (veja, por exemplo, em português, a versão João Ferreira de Almeida, Revista e Atualizada).
É interessante acrescentar aqui que o pai da igreja João Crisóstomo (falecido em 407 d.C.), comentando este verso diz: “Ele [Paulo] não disse ‘que traga para a Igreja’, a menos que se sinta envergonhado, por causa da insignificância da soma, mas ‘tendo, por adições graduais aumentado sua contribuição, que, então, será apresentada, quando eu vier’; mas no presente, ‘coloque a parte’, ele disse, ‘em casa, e faça de sua casa a igreja; sua pequena caixa, um tesouro…”18 Crisostomo, ele próprio, um observador do domingo, curiosamente, não parece pensar que 1Co 16:2, fosse uma evidência para o serviço de culto no domingo.

O dia do Senhor

Com relação a Ap 1:10, João simplesmente afirma que ele “estava em Espírito no dia do Senhor”. Embora seja verdade que eventualmente a expressão “dia do Senhor” veio a ser usada para o domingo, não existe nenhuma evidência indicando que este fosse o caso até cerca de um século depois do livro do Apocalipse ter sido escrito!19 De fato, como veremos adiante, existe a probabilidade de que o termo foi aplicado, primeiro, ao domingo da páscoa, antes de ser aplicado ao domingo semanal.
Mas a província romana da Ásia, à qual o livro do Apocalipse se aplica, não tinha nenhuma tradição do domingo da páscoa, quer no tempo em que o Apocalipse foi escrito ou mesmo um século mais tarde.20 Assim, o “dia do Senhor”, em Ap 1:10 não poderia se referir a um domingo da páscoa.
Mais significante ainda, é que não existe evidência anterior ou contemporânea de que o domingo tivesse alcançado nos tempos do Novo Testamento, uma posição na qual pudesse ser chamado “dia do Senhor”. Outro dia – o sábado, sétimo dia – tinha, naturalmente, sido o santo dia do Senhor, desde a antiguidade (veja Is 58:13) e fora o dia no qual o próprio Cristo e Seus seguidores, inclusive o apóstolo Paulo, tinham frequentado os serviços religiosos, como já vimos.
Nesta conexão, a afirmação do apócrifo “Atos de João”, pode ser de interesse histórico, a pesar de seu valor dúbio: “E os soldados, tendo tomado transportes públicos, viajaram rápido, tendo feito ele [João] assentar-se no meio deles. E quando chegaram à primeira troca, sendo isto na hora do desjejum, eles o encorajaram a se animar, tomar o pão e comer com eles. E João disse: eu me regozijo, de fato, na alma, mas enquanto isto, não desejo tomar qualquer alimento… E no sétimo dia, sendo este o dia do Senhor, ele disse a eles: Agora é tempo para eu também participar do alimento.”21 O “sétimo dia” citado aí pode referir-se ao sétimo dia, sábado, especificamente, ou ao sétimo dia da jornada. Se a referência é à última alternativa, este seria também o sábado, considerando que a prática na área de João era não jejuar aos sábados.22
Em conclusão, não existe uma única peça de evidência concreta, em qualquer lugar do Novo Testamento indicado que o domingo foi considerado um dia semanal de culto para os cristãos, em vez disto, o próprio Cristo, Seus seguidores por ocasião de Sua morte, e os apóstolos depois de Sua ressurreição regularmente freqüentavam serviços de culto no sábado, o sétimo dia da semana.
Além disto, quando a observância cristã do domingo finalmente tornou-se evidente, do terceiro ao quinto século, isto ocorreu lado ao lado com o sétimo dia, o sábado, como já visto. A questão que emerge agora tem que ver com quando e como a observância cristã do domingo surgiu. Este aspecto vital do nosso estudo será tratado na medida em que investigarmos, cuidadosamente, as fontes históricas, no artigo seguinte desta série.

Referências

1 Artigo traduzido do original em inglês por Amin A. Rodor, Th.D., diretor do Salt, no UNASP, Campus Engenheiro Coelho, SP.
2 Willy Rordorf, Sunday: The History of the Day of Rest and Worshi – in the Easlieste Centuries of the Christian Church. Tradução da original alemão, por. A.A. K. Graham, ed. 1962 (Filadélfia, 1968).
3 Este desenvolvimento será tratado posteriormente nesta série de artigos.
4 Socrates Scholasticus. Ecclesiastical History, livro 5, cap. 22 (The Nicene and Post-Nicene Fathers [NPNF] 2ª. Série, Vol. 2, p. 132).
5 Sopzoomen, Ecclesiastical History, livro 7, cap. 19 (NPNF, 2a série, vol. 12. p. 7, 8).
6 Apostolic Constitutions, livro 7, cap. 23; livro 8, cap. 33 (The Ante-Nicene Fathers [ANF], vol. 7, p. 469, 495).
7 Pseudo-Ignatius, To the Magnesians, cap. 9 (ANF, Vol. 1, p. 62, 63).
8 Cassian, Institutes of the Coenobia, livro 5, cap. 26 (NPNF, 2a série, vol. 11, p. 243). Cf. Institutes iii, 2 e Conferences iii. (NPNF, 2a série, vol. 11, p. 213, 319).
9 Gregory of Nyssa, De Castigatione (“On Reproof”), Em Migne, Patrologia Graeca, vol. 46, col. 309 (Grego) e col. 310 (Latim).
10 Asterius, Homily 5, em Matthew 19:33, em Migne, Patrologia Graeca, vol. 40, col. 225 (Grego), e col. 226 (Latim).
11 “Shabbath”, 7:2 (Em Herbert Danby, trad. The Mishnah [Londrews, 1933], p. 106.
12 Ibid. 12.5 (Danby, p. 112).
13 Ibid. 10.2-5 (Danby, p. 109).
14 Ibid. 17.6 (Danby, p. 115).
15 Ibid. 11.1-6 (Danby, p. 110-111).
16 Cf. Mt 12:11 e Lc 14:5. A interpretação rabínica também permitia o salvamento da vida (em emergência real), como mais importante do que as regulamentações do sábado. Ver “Mekita Shabbath”, 1, onde uma interpretação é dada, sobre como o sábado poderia ser desconsiderado em favor de salvar-se a vida de uma pessoa, para que ela pudesse observar muitos sábados.
17 The Damascus Document (Zadokite Document), x. 14-xi, 18, menciona esta e outras restrições.
18 Comentário em 1Co 16:2, em Homily 43:1; 1Co 16:1-9 (NPNF, 1ª. Série, vol 12, p. 259).
19 A fonte patrística mais antiga e clara é Clemente de Alexandria. Veja Miscellanies, cap. 14 (ANF, Vol. 2, p. 469). Referências posteriores quanto a isto serão mencionadas na próxima seção deste artigo).
20 Na controvérsia da páscoa, aproximadamente no ano 190 d.C. a província Romana da Ásia aderiu ao Quartodecimanismo (celebração em 14 de Nisan, independente do dia da semana), uma prática que Polycrates de Ephesus conecta com os apóstolos João e Felipe. A narrativa da controvérsia é oferecida por Eusébio, em Ecclesiastical History, livro 5, cap. 23-25 (NPNF, 2ª série, vol 1, p. 241-244).
21 Tradução para o inglês de ANF, vol. 8, p. 560, 561).
22 O Oriente, incluindo a província romana da Ásia, nunca adotou o jejum semanal do sábado. Detalhes adicionais aparecerão, nos próximos artigos desta série.